sexta-feira, junho 29, 2007

“Entrei naquele avião como podia ter entrado noutro qualquer”


Entrei naquele avião como podia ter entrado noutro qualquer, mas aquele estava-me destinado. Entrei naquele, o primeiro que vi. A minha fuga, a solução para tudo. A calma e a paz. Para onde ia? Quem se importaria com isso? Só importava de onde partia, e partia do meu passado, do meu presente, do que eu era e do que não queria que fosse o meu futuro. Partia de mim em direcção a um novo eu (e, estranhamente, já sabia o meu destino).
Partimos daquele aeroporto onde deixava tudo para trás. Daquele aeroporto onde todos corriam atarefados, tentando não perder as suas coisas, aqueles que os acompanham. Tentando não se perder de si mesmo. Eu já atingira esse estado e por isso estava ali.
O que se passara na madrugada daquele dia (triste dia, mas que marcou)? Simples de dizer: a minha vida deu uma enorme volta. Porquê? (e a vida tem tantos “porquês”…) isso é mais difícil de explicar… e de lembrar. Há coisas que nos marcam para sempre. Ah, sim! O porquê… não falarei nele, dói demais.
No avião, desconhecidos fardados perguntam-me se estou bem, perguntam-me se quero beber alguma coisa, perguntam-me se quero comer alguma coisa, perguntam-se porque a sua vida é assim. Também eles têm problemas, mas os nossos problemas são sempre piores que os dos outros. São nossos e isso já nos basta para nos preocuparmos. Talvez por isso sejamos tão egoístas.
Os outros passageiros daquele avião: esta viagem mudou. Com certeza, as suas vidas. Uns, fecharam aquele negócio que sempre quiseram fazer; outros assinaram o seu primeiro contrato de trabalho; alguns, pela primeira vez, voavam; outros ainda, tentavam ir de férias para um novo país, enquanto que algumas pessoas voltavam à sua terra-natal. Eu? Eu fugia, como disse. Fugia na procura de me encontrar, encontrar um novo rumo, um rumo para concretizar o meu sonho: ser feliz como turista do mundo, do meu mundo. Cada um tem um espaço só seu. O meu, por vezes, é colorido, alegre, cheio de vida, noutros momentos é sombrio, escuro, solitário. Perco-me nele e já penso conhecê-lo perfeitamente. Na realidade há sempre um novo recanto onde sinto algo diferente. E ninguém entra nessa parte do meu mundo. Ninguém quer entrar. Ninguém pode entrar. Depois tenho aquele mundo que é de todos, a Terra: com algumas árvores, água… Enfim, aquilo que todos vemos, aquilo que nos dizem…
Desejo mostrar-me este mundo de todos, mas visto pelos olhos dos meus pequenos mundos e tudo através da minha velhinha máquina fotográfica, ainda analógica.
A máquina analógica acompanha-me para onde quer que vá e mostra-me as imagens como as vejo. Para mim, a digital não faz o mesmo. Assim, o meu objectivo é fotografar esse mundo de todos os dias, mas com traços do meu mundo, da minha personalidade (porque é isso que ele é. Esse pequeno mundo é a minha personalidade). Provavelmente, através destas novas visões, conseguirei compreender-me.
A viagem naquele avião (que podia ser qualquer outro), não era apenas uma fuga do que tinha vivido (como podia ser? Estaria a fugir de mim. Sou apenas aquilo que vivi.), era sim uma fuga, mas para o esquecimento (algo que também constatei ser impossível. Não se esquece o que nos marca. E tudo nos marca. Umas coisas mais que outras). Fuga para o esquecimento e para o encontro do que queria ser. Para o meu encontro, num qualquer lugar onde seria mais feliz do que aquele onde estava.
Sim, se hoje estou aqui é porque, naquele tempo, aprendi a viver comigo e com o meu passado (não será o mesmo?), porque o meu destino foi algo de melhor (não sei se foi bom, mas foi com certeza melhor), porque concretizei o meu sonho. Porque entrei naquele avião, tal como podia ter entrado em qualquer outro, mas aquele estava-me destinado e ainda bem que entrei nele. Hoje, tenho a cabeça organizada, porque vi o mundo pelos meus olhos, percebi-me…
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Texto escrito pela minha Titiz!
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RaulChina





2 comentários:

Anónimo disse...

o que te dizer...?
texto enorme, o da tua Titiz.
Obrigada meu querido ='D

MeninaLua disse...

so para deixar beijinho ao Mí!


*** bom fim de semana*